Em 1994, assim como muitos adolescentes nessa intensa fase da vida, os cariocas do Noção de Nada entraram de cabeça na música e montaram uma banda. O início de um grupo é muito parecido, ensaios toscos, canções sem muito aprofundamento, e acima de tudo, muita diversão. Porém em 1998, os então menores de idade se apresentaram na capital mineira,a primeira vez fora do Rio de Janeiro. Foi o que bastou para que a “brincadeira” virasse “coisa séria”, e um ano depois eles teriam enfim seu primeiro CD lançado. O selo curitibano Barulho Records apresentou ao Brasil “Manifestos Líricos”, um álbum com muito mais amor e gana que habilidade técnica ou experiência. E talvez isso é que tenha feito a diferença. O resultado foram canções sentimentais e vigorosas que até hoje são exaltadas nos shows, como “Tristes Fins”, “Perdas” e “Você e Suas Imposições”. Com esse disco, o Noção de Nada despertou atenção por onde passou, seja pelo advento de ter um baterista/vocalista (Gabriel Zander) ou pelo som quase que inclassificável - fusão de rock com post-hardcore - e até então raro no Brasil. Em 2001, a banda foi até Vitória (ES) gravar seu segundo disco, “Trajes e Comportamentos de Acordo com os Eventos e as Ocasiões”. Os amigos do Dead Fish não só foram os cicerones, mas também os “patrões”, visto que na época mantinham o selo Terceiro Mundo Produções Fonográficas, que foi responsável pelo lançamento e distribuição do CD. Dele saíram músicas como “Diploma”, “Distância” e “Nobres Influências”. No ano seguinte foram convidados pela Terceiro Mundo para participar do inusitado 4-way-split “Faces do Terceiro Mundo” ao lado de Dead Fish, Reffer e Street Bulldogs. Nele, as quatro bandas mostraram uma inédita e uma versão de uma música das outras três. Em 2004, lançaram “Trilogia Suja de Copacabana”, um disco despretensioso e que refletia bem o desprendimento do NDN com relação a rótulos e estilos. As músicas estavam mais curtas, energéticas e a sonoridade mais crua. Faixas como “Bem Estar II”, “Ímpar”, “Antes da Enchente” e “Vitrine” caíram no gosto da galera. Tudo ia bem até que o guitarrista Eduardo Sodré, por motivos pessoais, decidiu deixar a banda - com direito a um emocionado show de despedida. Após um hiato, Marcelo Cunha (baixo), Gabriel Menezes (guitarra) e Gabriel Zander (baterista/voz) decidem que a banda ainda tem muita brasa pra queimar. Assim, Zander larga a bateria, ficando livre para o vocal, e eles recrutam os amigos Gabriel Arbex (guitarra) e Ricardo Rito (bateria). Essa formação foi estreada em Criciúma (SC) em abril do ano passado, numa meteórica, porém explosiva apresentação. Com a chegada dos novos integrantes e o “desprendimento” de Zander com relação à bateria, a performance ficou mais solta e carismática. Foi nessa vibe que o grupo entrou no estúdio Superfuzz, no Rio de Janeiro, para gravar “Sem Gelo”. Lançado em parceria entre os selos cariocas Manifesto Discos e Urubuz Records e o paulista Ideal Records, gravado, mixado e masterizado por Zander, o quarto álbum do Noção de Nada surpreende - mesmo os já habituados às mudanças a cada disco. Duas faixas foram disponibilizadas na internet para uma prévia: tanto “Expediente”, quanto “Orgânico” atraíram atenção de quem as escutou. A evolução do agora quinteto fez com que atingissem algo que muitas bandas anseiam: a reinvenção de seu próprio estilo. Para isso, as diversas influências que já existiam, porém apareciam discretamente, enfim ficaram mais claras. Não é a toa que traços de bossa nova e jazz se fundem a rock e hardcore - aqui a convivência entre MPB e punk é pacífica. Assim, além das duas já divulgadas entre as doze, surgem prováveis novos “hits” dos shows: “Aspirina”, “A Partir de Agora”, “Um Segundo” e “Garçom, Sem Gelo, Por Favor”. E assim, agregando influências distintas (Black Flag, Jorge Ben, Slayer, Miles Davis, Nirvana, Fun People etc), o Noção de Nada segue seu caminho fazendo o que gosta - que é tocar com sentimento e no maior número de lugares possíveis. por Ricardo Tibiu|Agosto/2006 Formação:|G. Zander (voz), M. Cunha (baixo), G. Menezes (guitarra), G. Arbex (guitarra) e R. Rito (bateria) |
|